N ota T écn ic a: A nális e d e e fe tiv id ad e d a v acin ação d a C O VID -1 9 n o B ra sil p ara c aso s d e h osp it a liz a ção o u ó bit o 09-Julho-2021 A vacinação contra infecções do vírus SARS-CoV -2 no país é um importante meio para o controle da pandemia, de modo que é importante avaliar a efetividade do programa de vacinação e das vacinas utilizadas em um contexto no qual o desempenho das ações de imunização pode variar com cenário epidemiológico diferente dos estudos controlados. Com base nos dados de vacinação e de casos graves de COVID-19, a partir dos registros de casos hospitalizados ou óbitos com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG-COVID confirmada ou suspeita), a efetividade da vacinação foi avaliada no país. A cobertura vacinal aumentou significativamente nos grupos de faixas etárias acima de 60 anos e nestas faixas etárias a priorização pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) não estava diretamente relacionada à presença de comorbidades, embora haja uma prevalência significativa de comorbidades nestes grupos. Nesta avaliação, destaca-se que, para a vacinação com pelo menos primeira dose, incluindo indivíduos vacinados com primeira dose e com esquema completo, independente da vacina, na faixa etária de 60 - 79 anos, a efetividade foi de 73,7% (IC 95%: 73,4?74,0), e para faixa etária 80+, 63,0% (IC 95%: 62,4?63,5). Especificamente, em relação às vacinas utilizadas, a efetividade até o momento para a vacinação com AstraZeneca, com pelo menos a primeira dose, na faixa etária de 60-79 anos, foi de 81,7% (IC 95%: 81,2?82,1), e para 80+, 62,8% (IC 95%: 62?63,5). Para a vacinação com CoronaV ac até o momento, com pelo menos a primeira dose, a efetividade para a faixa etária de 60-79 anos foi de 70,3% (IC 95%: 69,9?70,7) e para faixa 80+, 62,9% (IC 95%: 62,3?63,5). Para vacinação com esquema completo de duas doses, independentemente da vacina aplicada, foi encontrada efetividade na faixa etária 60 - 80 anos de 79,8% (IC 95%: 79,4?80,2) e para a faixa etária 80+, 70,3% (IC 95%: 69,7?70,9). A efetividade com esquema completo de duas doses para faixa etária 60-79 anos, com os dados de vacinados com CoronaV ac, foi de 79.6% (IC 95%: 79,2?80,0) e para a faixa etária 80+, 68.8% (IC 95%: 68,2?69,5). Em relação à parcela de vacinados com esquema completo com duas doses AstraZeneca, a efetividade foi estimada, para faixa etária 60-79 anos, em 93,8% (IC 95%: 92,0?95,4) e para a faixa etária 80+, em 91,3% (IC 95%: 90,2?92,3). Como o intervalo entre primeira e segunda dose é maior para a vacina AstraZeneca, foi possível avaliar a efetividade com vacina AstraZeneca em apenas primeira dose, encontrando efetividade de 81,1% (IC 95%: 80,6?81,6) para faixa etária 60-80 anos e 57,5% (IC 95%: 56,7?58,4) para a faixa etária 80+. Figura 1: Taxas de incidência de casos hospitalizados e óbitos com critério de Síndrome Respiratória Aguda Grave e confirmação de COVID-19, segundo data do inicio dos sintomas por regiões do país e faixas etárias. Números em casos por 100 mil habitantes na faixa etária. A Figura 1 apresenta as taxas de incidência de Síndrome Respiratória Aguda Grave, com confirmação de COVID-19, por faixas etárias, nas regiões do país. Observa-se valores de taxas de incidência bastante elevados no final de fevereiro e começo de março, quando se inicia um processo de diminuição do número de casos, sendo mais expressiva para faixas etárias 60-79 anos e 80+ anos de idade. Com os resultados de efetividade da vacinação aqui descritos e com a cobertura vacinal maior nestas faixas do que em outras no período, a vacinação foi um importante fator para redução do número de casos graves e óbitos. O estudo foi realizado por meio de análises estatísticas, utilizando como fontes de dados as bases de dados de vacinação SI-PNI e SIVEP-gripe, interligadas pela equipe do Programa Nacional de Imunização. Com dados reportados até 7 de junho de 2021, a avaliação envolveu um total de registros de mais de 40 milhões de vacinados com pelo menos uma dose de vacina e mais de 798 mil casos graves ou óbitos, de acordo com os critérios de Síndrome Respiratória Aguda Grave com confirmação de COVID-19 ou suspeito. Com base em critérios a partir da data de vacinação, os casos são diferenciados entre imunizados ou não. A avaliação de risco pelo número de casos e o total de casos estratificados por faixas etárias permite a avaliação da efetividade. Portanto, a metodologia permite avaliar a efetividade da vacinação em todo o país, com bases de dados do SI-PNI e do SIVEP-gripe, com muitos registros. Estas estimativas de efetividade indicam importante proteção de redução de morbimortalidade em casos graves de infecção do vírus SARS-CoV -2. No entanto, a efetividade se reduz para algumas faixas etárias, particularmente para mais idosos (80 anos ou mais). A imunosenescência e uma duração mais limitada da imunidade no grupo 80+ poderia levar também a uma menor efetividade, haja vista que este grupo teve prioridade para iniciar mais cedo o processo de imunização. Este tipo de estudo é importante para acompanhar a efetividade ao longo do tempo, com resultados compatíveis com os estudos controlados, como ensaios clínicos. No entanto, existem múltiplos fatores, relacionados à vacinação e exposição ao SARS-CoV -2 que dificultam ou limitam a avaliação. A análise no tempo também é sensível a alterações na incidência da COVID-19, pois houve entrada de variantes e outros fatores de intervenção no período estudado, como medidas restritivas em alguns municípios e/ou estados, seguidas de diferentes graus de flexibilização. Da mesma forma, as medidas não-farmacológicas para controle e mitigação da pandemia variaram ao longo do período, inclusive por estados, e foram flexibilizadas com baixa cobertura vacinal. O relaxamento de medidas não farmacológicas após a vacinação, como uso menos frequente de máscara e aumento nas interações sociais presenciais sem os devidos cuidados de distanciamento e ventilação induzem maior risco de infecção. Para idosos, em particular acima de 80 anos de idade, seria preciso avaliar o perfil de indivíduos nesta faixa que ainda não haviam recebido doses de vacina, para avaliar a hipótese de que seriam indivíduos sob maior risco (viés de seleção). Estes aspectos impactam na efetividade, entretanto ressalta-se que os valores estimados são compatíveis com os valores obtidos em estudos controlados. Por fim, a efetividade da vacinação continuará a ser avaliada buscando estimar os dados de efetividade das vacinas com sua utilização no mundo real, no contexto epidemiológico e das variantes circulantes. Neste sentido, os dados obtidos até este momento refletem principalmente as evidências de proteção vacinal frente a variante gama, preponderante no país neste período. Serão também importantes outros estudos que acompanhem o perfil epidemiológico e aspectos socio-demográficos dos indivíduos vacinados e não vacinados. Equipe Nota técnica elaborada por pesquisadores do Programa de Computação Científica, Escola Nacional de Saúde Pública, Bio-Manguinhos e Fundação Getúlio V argas: Daniel Antunes Maciel V illela, Claudio José Struchiner , Leonardo Soares Bastos, Claudia Torres Codeço, Oswaldo G. Cruz, Antonio Guilherme Pacheco, Marcelo F .C. Gomes, Raquel Lana, Suzana Eda Hikichi, Laís Freitas, Flavio Codeço Coelho, Luiz Max F . Carvalho, Tatiana Guimarães de Noronha, Luiz Antonio Camacho. Contato: Daniel A.M. Villela ? daniel.villela@fiocruz.br Referências Dagan, Noa, Noam Barda, Eldad Kepten, Oren Miron, Shay Perchik, Mark A Katz, Miguel A Hernán, Marc Lipsitch, Ben Reis, and Ran D Balicer . 2021. ?BNT162b2 mRNA Covid-19 V accine in a Nationwide Mass V accination Setting.? New England Journal of Medicine 384 (15). Mass Medical Soc: 1412?23. Dicker , Richard C, Fatima Coronado, Denise Koo, and R Gibson Parrish. 2006. Principles of Epidemiology in Public Health Practice; an Introduction to Applied Epidemiology and Biostatistics. Editado pela Public Health Foundation. CDC. Organização Mundial da Saúde, ?Evaluation of Covid-19 V accine Ef fectiveness.? 2021. 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